ME ABRACE PATIS

MEU SERTÃO MINEIRO

Esta página é dedicada ao sertanejo de todas as idades, aos meus irmãos e amigos de infância e seus descendentes amantes  das coisas simples do campo, da natureza, e tudo que diz respeito á vida rural.




                                  o  misterioso pau preto
      
                      
Na antiga  estrada cavaleira que vai de Patis ao Jacaré (fazenda), a uns 300 metros depois que  atravessava a estrada de rodagem, entre a manga de Tião Rocha e as terras de Lu Pereira,   perto da serra, uns 500 metros antes da casa de Teodomiro, havia uma curvinha e uma arvore, de médio porte, aqui denominada de Pau preto, famosa.
Aquele trecho da estrada era esteito, quase a conta de passar um carro de boi. Havia barranco dos dois lados, tomados por árvores do cerrado, de médio porte, que protegiam a estrada do sol. O terreno argiloso, a tornava escorregadia nos períodos de chuva e,  devido o pequeno declive, entre o "pau pretim" e a casa de Teodomiro, a enxurrada formava barrocas dos dois lados ficando as vezes o espaço de apenas um cavaleiro passar devagar, com cuidado para não cair nas barrocas.
Havia uma história  na região, que  fez a fama do "pau pretim". Contava-se que  os cavaleiros que  passavam por ali sozinhos  a noite, ouvia uma voz que vinha do  "pau pretim". Parecia mesmo que alguém estava escondido atrás da árvore e quando cavaleiro passava falava não muito alto: “Dá a garupa aí moço?”. Antes mesmo que a pessoa pudesse responder, tinha a impressão que alguém sentava-se na garupa. O cavalo fazia o costumeiro balanço ao sentir o peso  e parava. Não saía do lugar.
Para se livrar do “carona” o cavaleiro deveria passar uma faca pela garupa do cavalo como se passa uma escova. Poderia ser também um terço ou um crucifixo bento.
Certo é que, ninguém se arriscava a passar por ali sozinho a noite.


Jeca Tatu - A História

Monteiro Lobato
Jeca Tatu era um pobre caboclo que morava no mato, numa casinha de sapé. Vivia na maior pobreza, em companhia da mulher, muito magra e feia e de vários filhinhos pálidos e tristes.
Jeca Tatu passava os dias de cócoras, pitando enormes cigarrões de palha, sem ânimo de fazer coisa nenhuma. Ia ao mato caçar, tirar palmitos, cortar cachos de brejaúva, mas não tinha idéia de plantar um pé de couve atras da casa. Perto um ribeirão, onde ele pescava de vez em quando uns lambaris e um ou outro bagre. E assim ia vivendo.
Dava pena ver a miséria do casebre. Nem móveis nem roupas, nem nada que significasse comodidade. Um banquinho de três pernas, umas peneiras furadas, a espingardinha de carregar pela boca, muito ordinária, e só.
Todos que passavam por ali murmuravam:
Que grandíssimo preguiçoso!
Jeca Tatu era tão fraco que quando ia lenhar vinha com um feixinho que parecia
brincadeira. E vinha arcado, como se estivesse carregando um enorme peso.
Por que não traz de uma vez um feixe grande? Perguntaram-lhe um dia.
Jeca Tatu coçou a barbicha rala e respondeu:

Não paga a pena.
Tudo para ele não pagava a pena. Não pagava a pena consertar a casa, nem fazer uma horta, nem plantar arvores de fruta, nem remendar a roupa.

Só pagava a pena beber pinga.
Por que você bebe, Jeca? Diziam-lhe.
Bebo para esquecer.
Esquecer o quê?
Esquecer as desgraças da vida.
E os passantes murmuravam:

Além de vadio, bêbado...
Jeca possuía muitos alqueires de terra, mas não sabia aproveitá-la. Plantava todos os anos uma rocinha de milho, outra de feijão, uns pés de abóbora e mais nada. Criava em redor da casa um ou outro porquinho e meia dúzia de galinhas. Mas o porco e as aves que cavassem a vida, porque Jeca não lhes dava o que comer. Por esse motivo o porquinho nunca engordava, e as galinhas punham poucos ovos.
Jeca possuía ainda um cachorro, o Brinquinho, magro e sarnento, mas bom companheiro e leal amigo.
Brinquinho vivia cheio de bernes no lombo e muito sofria com isso. Pois apesar dos ganidos do cachorro, Jeca não se lembrava de lhe tirar os bernes. Por que? Desânimo, preguiça...
As pessoas que viam aquilo franziam o nariz.
Que criatura imprestável! Não serve nem para tirar berne de cachorro...
Jeca só queria beber pinga e espichar-se ao sol no terreiro. Ali ficava horas, com o cachorrinho rente; cochilando. A vida que rodasse, o mato que crescesse na roça, a casa que caísse. Jeca não queria saber de nada. Trabalhar não era com ele.
Perto morava um italiano já bastante arranjado, mas que ainda assim trabalhava o dia inteiro. Por que Jeca não fazia o mesmo?
Quando lhe perguntavam isso, ele dizia:
Não paga a pena plantar. A formiga come tudo.
Mas como é que o seu vizinho italiano não tem formiga no sítio?
É que ele mata.
E porque você não faz o mesmo?
Jeca coçava a cabeça, cuspia por entre os dentes e vinha sempre com a mesma história:

Quá! Não paga a pena...
Além de preguiçoso, bêbado; e além de bebado, idiota, era o que todos diziam.

Um dia um doutor portou lá por causa da chuva e espantou-se de tanta miséria. Vendo o caboclo tão amarelo e chucro, resolveu examiná-lo.
Amigo Jeca, o que você tem é doença.
Pode ser. Sinto uma canseira sem fim, e dor de cabeça, e uma pontada aqui no peito que responde na cacunda.
Isso mesmo. Você sofre de anquilostomiase.
Anqui... o quê?
Sofre de amarelão, entende? Uma doença que muitos confundem com a maleita.
Essa tal maleita não é a sezão?
Isso mesmo. Maleita, sezão, febre palustre ou febre intermitente: tudo é a mesma coisa, está entendendo? A sezão também produz anemia, moleza e esse desânimo do amarelão; mas é diferente. Conhece-se a maleita pelo arrepio, ou calafrio que dá, pois é uma febre que vem sempre em horas certas e com muito suor. O que você tem é outra coisa. É amarelão.

O doutor receitou-se o remédio adequado; depois disse: "E trate de comprar um par de botinas e nunca mais me ande descalço nem beba pinga, ouviu?"
Ouvi, sim, senhor!
Pois é isso, rematou o doutor, tomando o chapéu. A chuva passou e vou-me embora. Faça o que mandei, que ficará forte, rijo e rico como o italiano. Na semana que vem estarei de volta.
Até por lá, sêo doutor!
Jeca ficou cismando. Não acreditava muito nas palavras da ciência, mas por fim resolveu comprar os remédios, e também um par de botinas ringideiras.

Nos primeiros dias foi um horror. Ele andava pisando em ovos. Mas acostumou-se, afinal...
Quando o doutor reapareceu, Jeca estava bem melhor, graças ao remédio tomado. O doutor mostrou-lhe com uma lente o que tinha saído das suas tripas.
Veja, sêo Jeca, que bicharia tremenda estava se criando na sua barriga! São os tais anquilostomos, uns bichinhos dos lugares úmidos, que entram pelos pés, vão varando pela carne adentro até alcançarem os intestinos. Chegando lá, grudam-se nas tripas e escangalham com o freguês. Tomando este remédio você bota p'ra fora todos os anquilostomos que tem no corpo. E andando sempre calçado, não deixa que entrem os que estão na terra. Assim fica livre da doença pelo resto da vida.
Jeca abriu a boca, maravilhado.

Os anjos digam amém, sêo doutor!
Mas Jeca não podia acreditar numa coisa: que os bichinhos entrassem pelo pé. Ele era "positivo" e dos tais que "só vendo". O doutor resolveu abrir-lhe os olhos. Levou-o a um lugar úmido, atrás da casa, e disse:
Tire a botina e ande um pouco por aí.
Jeca obedeceu.

Agora venha cá. Sente-se. Bote o pé em cima do joelho. Assim. Agora examine a pela com esta lente.
Jeca tomou a lente, olhou e percebeu vários vermes pequeninos que já estavam penetrando na sua pele, através dos poros. O pobre homem arregalou os olhos assombrado.

E não é que é mesmo? Quem "havera" de dizer!...
Pois é isso, sêo Jeca, e daqui por diante não duvide mais do que a ciência disser.
Nunca mais! Daqui por diante nha ciência está dizendo e Jeca está jurando em cima! T'esconjuro! E pinga, então, nem p'ra remédio...

Tudo o que o doutor disse aconteceu direitinho! Três meses depois ninguém mais conhecia o Jeca.
A preguiça desapareceu. Quando ele agarrava no machado, as arvores tremiam de pavor. Era pan, pan, pan... horas seguidas, e os maiores paus não tinham remédio senão cair.
Jeca, cheio de coragem, botou abaixo um capoeirão para fazer uma roça de três alqueires. E plantou eucaliptos nas terras que não se prestavam para cultura. E consertou todos os buracos da casa. E fez um chiqueiro para os porcos. E um galinheiro para as aves. O homem não parava, vivia a trabalhar com fúria que espantou até o seu vizinho italiano.
Descanse um pouco, homem! Assim você arrebenta... diziam os passantes.
Quero ganhar o tempo perdido, respondia ele sem largar do machado. Quero tirar a prosa do "intaliano".

Jeca, que era um medroso, virou valente. Não tinha mais medo de nada, nem de onça! Uma vez, ao entrar no mato, ouviu um miado estranho.
Onça! Exclamou ele. É onça e eu aqui sem nem uma faca!...
Mas não perdeu a coragem. Esperou a onça, de pé firme. Quando a fera o atacou, ele ferrou-se tamanho murro na cara, que a bicha rolou no chão, tonta. Jeca avançou de novo, agarrou-a pelo pescoço e estrangulou-a

Conheceu, papuda? Você pensa então que está lidando com algum pinguço opilado? Fique sabendo que tomei remédio do bom e uso botina ringideira...
A companheira da onça, ao ouvir tais palavras, não quis saber de histórias - azulou! Dizem que até hoje está correndo...

Ele, que antigamente só trazia três pausinhos, carregava agora cada feixe de lenha que metia medo. E carregava-os sorrindo, como se o enorme peso não passasse de brincadeira.
Amigo Jeca, você arrebenta! Diziam-lhe. Onde se viu carregar tanto pau de uma vez?
Já não sou aquele de dantes! Isto para mim agora é canja, respondia o caboclo sorrindo.
Quando teve de aumentar a casa, foi a mesma coisa. Derrubou no mato grossas perobas, atorou-as, lavrou-as e trouxe no muque para o terreiro as toras todas. Sozinho!
Quero mostrar a esta paulama quanto vale um homem que tomou remédio de Nha Ciência, que usa botina cantadeira e não bebe nem um só martelinho de cachaça.
O italiano via aquilo e coçava a cabeça.

Se eu não tropicar direito, este diabo me passa na frente, Per Bacco!
Dava gosto ver as roças do Jeca. Comprou arados e bois, e não plantava nada sem primeiro afofar a terra. O resultado foi que os milhos vinham lindos e o feijão era uma beleza.
O italiano abria a boca, admirado, e confessava nunca Ter visto roças assim.
E Jeca já não plantava rocinhas como antigamente. Só queria saber de roças grandes, cada vez maiores, que fizessem inveja no bairro.
E se alguém lhe perguntava:
Mas para que tanta roça, homem? Ele respondia:
É que agora quero ficar rico. Não me contento com trabalhar para viver. Quero cultivar todas as minhas terras, e depois formar aqui uma enorme fazenda. E hei de ser até coronel...
E ninguém duvidava mais. O italiano dizia:

E forma mesmo! E vira mesmo coronel! Per la Madonna!...
Por esse tempo o doutor passou por lá e ficou admiradíssimo da transformação do seu doente.
Esperara que ele sarasse, mas não contara com tal mudança.
Jeca o recebeu de braços abertos e apresentou-o à mulher e aos filhos.
Os meninos cresciam viçosos, e viviam brincando contentes como passarinhos.
E toda gente ali andava calçada. O caboclo ficara com tanta fé no calçado, que metera botinas até nos pés dos animais caseiros!
Galinhas, patos, porcos, tudo de sapatinho nos pés! O galo, esse andava de bota e espora!
Isso também é demais, sêo Jeca, disse o doutor. Isso é contra a natureza!
Bem sei. Mas quero dar um exemplo a esta caipirada bronca. Eles aparecem por aqui, vêem isso e não se esquecem mais da história.

Em pouco tempo os resultados foram maravilhosos. A porcada aumentou de tal modo, que vinha gente de longe admirar aquilo. Jeca adquiriu um caminhão Ford, e em vez de conduzir os porcos ao mercado pelo sistema antigo, levava-os de auto, num instantinho, buzinando pela estrada afora, fon-fon! fon-fon!...
As estradas eram péssimas; mas ele consertou-as à sua custa. Jeca parecia um doido. Só pensava em melhoramentos, progressos, coisas americanas. Aprendeu logo a ler, encheu a casa de livros e por fim tomou um professor de inglês.
Quero falar a língua dos bifes para ir aos Estados Unidos ver como é lá a coisa.
O seu professor dizia:

O Jeca só fala inglês agora. Não diz porco; é pig. Não diz galinha! É hen... Mas de álcool, nada. Antes quer ver o demônio do que um copinho da "branca"...
Jeca só fumava charutos fabricados especialmente para ele, e só corria as roças montado em cavalos árabes de puro sangue.
Quem o viu e quem o vê! Nem parece o mesmo. Está um "estranja" legítimo, até na fala.
Na sua fazenda havia de tudo. Campos de alfafa. Pomares belíssimos com quanta fruta há no mundo. Até criação de bicho da seda; Jeca formou um amoreiral que não tinha fim.

Quero que tudo aqui ande na seda, mas seda fabricada em casa. Até os sacos aqui da fazenda têm que ser de seda, para moer os invejosos...
E ninguém duvidava de nada.

O homem é mágico, diziam os vizinhos. Quando assenta de fazer uma coisa, faz mesmo, nem que seja um despropósito...
A fazenda do Jeca tornou-se famosa no país inteiro. Tudo ali era por meio do rádio e da eletricidade. Jeca, de dentro do seu escritório, tocava num botão e o cocho do chiqueiro se enchia automaticamente de rações muito bem dosadas. Tocava outro botão, e um repuxo de milho atraia todo o galinhame...
Suas roças eram ligadas por telefones. Da cadeira de balanço, na varanda, ele dava ordens aos feitores lá longe.
Chegou a mandar buscar no Estados Unidos um telescópio.

Quero aqui desta varanda ver tudo que se passa em minha fazenda.
E tanto fez, que viu. Jeca instalou os aparelhos e assim pode, da sua varanda, com o charutão na boca, não só falar por meio do rádio para qualquer ponto da fazenda, como ainda ver, por meio do telescópio, o que os camaradas estavam fazendo.

Ficou rico e estimado, como era natural; mas não parou aí. Resolveu ensinar o caminho da saúde aos caipiras das redondezas. Para isso montou na fazenda e vilas próximas vários Postos de Maleita, onde tratava os enfermos de sezões; e também Postos de Anquilostomose, onde curava os doentes de amarelão e outras doenças causadas por bichinhos nas tripas.
O seu entusiasmo era enorme. "Hei de empregar toda a minha fortuna nesta obra de saúde geral, dizia ele. O meu patriotismo é este. Minha divisa: Curar gente. Abaixo a bicharia que devora o brasileiro..."
E a curar gente da roça passou Jeca toda a sua vida. Quando morreu, aos 89 anos, não teve estátua, nem grandes elogios nos jornais. Mas ninguém ainda morreu de consciência tranqüila. Havia cumprido o seu dever até o fim.
Meninos: nunca se esqueçam desta história; e, quando crescerem, tratem de imitar o Jeca. Se forem fazendeiros, procurem curar os camaradas da fazenda. Além de ser para eles um grande benefício, é para você um alto negócio. Você verá o trabalho dessa gente produzir três vezes mais.
Um país não vale pelo tamanho, nem pela quantidade de habitantes. Vale pelo trabalho que realiza e pela qualidade da sua gente. Ter saúde é a grande qualidade de um povo. Tudo mais vem daí.
Nota da redação:
Este conto foi adotado como peça publicitária do Laboratório Fontoura. Adaptado em história em quadrinhos ou na forma de folheto, ou ainda fazendo parte de almanaques, teve até os anos 60 uma tiragem de cerca de 18 milhões de exemplares. Há testemunhos de que sua leitura transformou a vida de muita gente.
Fonte texto: Projeto Memória
Fonte Imagens: Sociedade Obreiros do Bem


 A MINHA MÃE GOSTAVA DE LER HISTÓRIAS PARA OS FILHOS. Me lembro de "Lalau, Lili  e o Lobo", "Uma História depois outra", "As mais belas histórias" onde sem saber, conheci os mais famosos contos da literatura infantil. Lia também os almanaques e assim conheci "Jeca Tatu". Era costume as visitas noturnas de  famílias  amigas e reuniões de parentes. Na área rural, após um dia de trabalho na lavoura, os "camaradas", o vaqueiro, permaneciam conversando no terreiro, até "tarde da noite". Não se falava em cansaço.  Alegres, conversavam, contavam histórias e riam ás gargalhadas.  As empregadas da casa, e as esposas dos "agregados" eram amigas, carinhosas e protetoras. Nas noites de frio e chuva, ficávamos na cozinha, á beira do fogão de lenha, ouvindo as conversas com a minha mãe e as histórias que nos contavam. Minha mãe era muito jovem e meu pai era idoso. Os empregados, marido e mulher, eram mais ou menos da mesma idade. A minha primeira infância e até os 12 anos, convivi em família, com estes adultos que não eram letrados, mas me ensinaram o que nenhuma faculdade ensina.Considero que a minha leitura de mundo naquele curto espaço de tempo, foi a mais rica, a mais feliz  e mais importante da minha vida.
O meu pai era muito sério, mas os "agregados"  vaqueiros e outros amigos, eram divertidos e transformavam dramas em comédias. Foi assim, que  ouvi falar muito do bando de Lampião.

O REI DO CANGAÇO

Lampião nasceu das contradições e conflitos da terra, da violência do campo imposta pelos coronéis latifundiários, políticos corruptos e do clero aliado da aristocracia sertaneja e da burguesia litorânea. Eternizou-se como mito da cultura popular. Virou lenda no Brasil de Sul a Norte, principalmente nas regiões Norte e Nordeste. Influenciou a música popular nordestina. Apimentou os acordes de Luiz Gonzaga e de centenas de sanfoneiros, violeiros, repentistas e cordelistas. Seu sangue corre nas veias do xaxado (dança dos cangaceiros), no xote, no baião e no forró.
“É Lamp, é Lamp, é Lamp. É Lamp é Lampião. Seu nome é Virgulino, o apelido é Lampião”. Este é o hino consagrado ao rei do cangaço pelo Brasil. Um canto que eclode nas caatingas, no agreste, no Raso da Catarina, na Serra do Apodi, nos cariris, Serra Talhada, tabuleiros, lugares por onde passou o célebre cangaceiro.
Virgulino Ferreira da Silva nasceu em Vila Bela, atual Serra Talhada – alto sertão pernambucano – no ano de 1897. Ano trágico do massacre de Canudos, onde foram assassinados milhares de camponeses. Da estirpe de Antônio Conselheiro, o famoso beato e líder político-religioso que inspirou Os Sertões, obra-prima de Euclides da Cunha, Lampião foi cangaceiro, uma categoria acima de jagunço. Com ele, muitos jagunços – vassalos dos coronéis – ascenderam à posição de cangaceiro que era símbolo de independência e individualidade. O soldo do cangaceiro dependia do que se conseguia em saques, sequestros, assaltos a fazendas e cidades. Lampião era generoso e bom pagador. Franqueava aos cabras do bando ações individuais que rendiam alguma remuneração.
O reino de Lampião durou de 1914 a 1938. Atraiu muitos jagunços e coiteiros de todo o Nordeste numa época crítica, sem muitas opções de trabalho. Calcula-se que seu grupo tinha em torno de 120 membros.
Lampião viveu todos os conflitos de seu tempo quando o sítio de seu pai, José Ferreira, em Vila Bela, foi invadido pelo fazendeiro João Nogueira e seus capangas. Invadiram as terras dos Ferreiras, cortaram orelhas dos animais. Fizeram emboscadas e trapaças, em 1911. Os Ferreiras fugiram para um sítio no interior de Alagoas e se desentenderam com o subdelegado da região que invadiu o local e matou o pai de Lampião.
Aos 23 anos, após o assassinato do pai, Lampião tornou-se cangaceiro. Levou consigo os irmãos Ezequiel, Antônio e Livino. O apelido de Lampião foi dado pelos homens do bando de Sinhô Pereira que iniciou o jovem Virgulino no cangaço. Reza a lenda que Virgulino atirava muito bem e que o seu fuzil parecia iluminado. Atribui-se a ele a frase: “Meu fuzil não nega fogo”. A frase foi retrucada por outro cangaceiro que disse: Então não é fuzil, é lampião”. O apelido pegou e virou mito no sertão de Deus-dará. Lampião herdou o comando do bando de Sinhô Pereira aos 25 anos. A partir de 1926 algumas mulheres foram incorporadas ao bando. Lampião conheceu Maria Bonita em 1929, então mulher de um sapateiro. Fez a corte à bela Maria que abandonou o marido e optou pelo cangaço.
A caçada a Lampião e seu bando terminou no dia 12 de agosto de 1938. O cangaceiro foi morto aos 40 anos, a 3 quilômetros do Rio São Francisco, na grota da fazenda Angico. Época em que o rei do cangaço estava distraído, preocupado com a sua Maria Bonita que vivia o drama da tuberculose. A tropa do tenente João Bezerra recebeu o serviço do coiteiro de Lampião Pedro de Cândido que, segundo consta, teria levado bebida envenenada para os cangaceiros. Não houve luta. Os homens estavam bêbados e dormentes. Onze cangaceiros foram mortos, incluindo Lampião e Maria Bonita. Vinte e quatro cangaceiros fugiram pelo sertão. Acabou-se, aí, o reinado de Lampião. Mas a lenda continua.
Gustavo Dourado

Contano causo:

A cruz da Ceição

Muito chegado ao trabalho, Malaquias nunca foi. Fazia lá seus biscates – mandando, uma capina de horta de vez em quando -, só a conta de tapear. Quem pegava mesmo no batente era Ceição, sua mulher. Criada na roça, fazia de tudo pra sustentar a casa. Lavavam trouxas e mais trouxas de roupa, socava arroz e café, buscava lenha, vendida aos feixes, fazia biscoito nas casas, não recusava nenhum tipo de serviço.Ninguém entendia como uma mulher feita a Ceição, prendada e bonitona, podia carregar nas costas um tipo desengonçado e vagabundo que nem o Malaquias.
- Vai ver é o chamego dele – alguém dizia.
- Parece até feitiço... – completavam.
Fosse o que fosse, chamego ou feitiço, quanto mais a mulher dava duro, mais o marido mandriava. Agora, tinha viciado em beber, vivia escornado. Passava o dia no boteco, cada hora goderando bebida de um.
- Não faz nem pra pinga – comentaram.
- É, mas não pára de fazer filho.
Barriguda e pesadona, uma penca de crianças pra cuidar, fora a trabalheira de sempre, Ceição vira-e-mexe perdia a paciência com o imprestável do marido. Mas tinha pena dele, logo voltava às boas.
Um dia Malaquias veio vindo pela rua, encontrou a dona Zélia, que perguntou espantada:
- Que foi isso, Malaquias? Algum acidente?
- Mais ou menos.
- Atropelamento?
- Não, senhora.
- Então, como é que foi?
- A Ceição me deu um dinheiro ontem, diz-que andava desacoroçoada, me pediu pra comprar umas precisões, a senhora sabe. Arroz, café, feijão, essas coisa. A tempo da janta, ela pediu.
- E aí?
- Bom, aí, no caminho da venda, dei uma paradinha no boteco. Então, a senhora sabe como é.
- Como é o quê?
- O dinheiro ali, parece coisa que coça no bolso da gente.
- E você não resistiu, não é, Malaquias?
- É, sim senhora. Pedi uma, ofereci pros amigo, a gente foi indo, foi indo...
- ... Beberam o dinheiro todo.
- Isso também não, dona Zélia! Ainda sobrou um troco bem bom.
- E o que você fez com ele?
- Foi o que a Ceição me perguntou.
- E você
- Pelejei pra explicar, ela não quis compreender.
Virou onça, só vendo. Veio foi feito doida por riba de mim.
- Ela não quis compreender o quê, Malaquias?
- Que a gente encontra o companheiro, bebe, dá umas idéias meio doidas na cabeça...
- Afinal, o que fizeram com o troco?
- Ah, dona Zélia, queimamos tudo em foguete.




Santo Antônio - Festejado em 13 de junho
Nasceu em Lisboa, em agosto de 1195, batizado com o nome de Fernando de Bulhões. Aos 15 anos, entrou para um convento agostiniano e, em 1220, trocou o nome para Antônio, ingressando na Ordem Franciscana. Lecionou Teologia em várias universidades européias e morreu em 13 de junho de 1231, a caminho de Pádua, na Itália.
Padroeiro dos pobres e considerado o santo casamenteiro, também é invocado por pessoas que queiram encontrar objetos desaparecidos.

Fogueira: representada na forma de um quadrado.
SIMPATIAS
A simpatia nada mais é do que um ritual para concentrar a energia, pois é sabido que, apenas com um pensamento negativo, poderemos prejudicar qualquer forma da criação e, principalmente, a nós mesmos, com a somatização de doenças.
- Simpatia para Reconciliação
Acenda duas velas, uma rosa e outra azul, unidas com uma linha branca e ofereça para a Corrente dos Anjos da Reconciliação, pedindo que desfaça o mal-entendido e que traga novamente a harmonia na relação, desde que seja para o bem de ambos.
- Simpatias para quem está só
1) Abrir a porta da frente da casa para que Santo Antônio permita a entrada de alguém especial em sua vida, dizendo: “Santo Antônio, protetor dos enamorados, faça chegar até mim aquele que anda sozinho e que em minha companhia será feliz”.
2) Acender uma vela rosa, de qualquer tamanho, em um pires com mel e pedir ao Arcanjo Haniel a verdadeira realização afetiva.
3) Colocar um quartzo rosa dentro de um copo transparente, com água filtrada, e deixar no sereno, na véspera do dia de Santo Antônio, pedindo tudo que almeja para a realização afetiva - felicidade, respeito, harmonia, companheirismo, cumplicidade, afeto, dedicação, carinho, amor, compreensão, etc.
No dia seguinte, passar água nos pulsos, para se articular sempre com equilíbrio; nos joelhos, para ter flexibilidade e respeitar o outro; no coração, para amar com sinceridade e que o amor seja pleno e digno.

4) No dia de Santo Antônio, olhe para o céu e escolha uma estrela . Fixe nela seu olhar e faça seu desejo com fervor.
Abra os braços e agradeça ao Universo a chegada do amor.

- Simpatia para quem somente "fica" e quer formalizar o relacionamento
Retire 3 espinhos de uma rosa vermelha e coloque dentro do perfume que você usa e que a pessoa gosta. Peça para Santo Antônio remover os obstáculos “se for para a felicidade de ambos”. Use o perfume sempre que estiver com a pessoa.

BANHOS DE ERVAS, PLANTAS, FLORES FUNCIONAM?
Impossível separar a realidade da fantasia.
As ervas e plantas sempre foram usadas desde a Antigüidade como aromáticas, na medicina, na culinária, cosmética, perfumes, hábitos de higiene, para embalsamar corpos, para atrair bons fluidos e afastar negatividade. Assim, o alho é usado para repelir vampiros ou ainda é feita a queima de determinadas madeiras para manter afastados animais ferozes e insetos, como a Citronela.

As flores possuem freqüência vibratória e elementos fluídicos, através da cor e do perfume, além de embelezar e ionizar ambientes, como as rosas, por exemplo.

. Banho de Atração
Ferver em 1 litro de água:
7 pétalas de rosa vermelha (símbolo da paixão)
7 gotas de óleo essencial de sândalo (afrodisíaco)
7 cravos da Índia (afrodisíaco)
7 pitadas de coentro (afrodisíaco)
Coar e jogar do pescoço para baixo após o banho


· Para arrumar um(a) namorado(a)
Logo na manhã do Dia dos Namorados, véspera de Santo Antônio, compre um metro de fita azul de qualquer largura e escreva nela o nome completo da pessoa amada. À noite, conte 7 estrelas no céu, sem apontar, e faça um pedido ao santo para que ele ajude você a conquistar o coração dessa pessoa. No dia seguinte, amarre a fita nos pés da imagem de Santo Antônio e deixe lá, até conseguir arranjar uma pessoa para namorar.
· Para que o seu amor volte
Compre um pedaço de papel vermelho, escreva nele o nome da pessoa que você ama e quer que volte. Pegue uma foto dela e cole-a no papel. Num vaso transparente, coloque meio litro de água benta e sete botões de rosa vermelha. Vá até uma igreja que tenha a imagem de Santo Antônio, coloque o vaso no altar. Em sua casa, acenda sete velas brancas, juntamente com a fita vermelha de papel com a foto, ofertando-as ao santo e pedindo pela volta do seu amor.

· Para nunca perder a pessoa amada
Quem ama deseja prender a pessoa amada na prisão de seus braços e subjugá-la com seu amor, impedindo-a de se afastar de si para sempre. Esse sentimento de posse, característica da paixão, independe de sexo, idade ou qualquer outro fator, podendo se manifestar indiscriminadamente. Basta amar para querer prender. Se você se sente assim e quer se assegurar de que a pessoa amada não vai deixá-la(o) por outra(o), faça a seguinte simpatia: pegue fotografias sua e da pessoa amada, de corpo inteiro, passe cola nas faces das duas e coloque-as uma de frente para a outra, enrolando um retrós de linha vermelha, em cruz, até o final. Cole-as, em seguida, no verso do quadro com a imagem de Santo Antônio, colocando-o na parede do seu quarto, acima da cabeceira de sua cama.
Toda manhã, quando se levantar, e à noite, quando for se deitar, olhe para os olhos do santo e mentalize seu amor e você, unidos para sempre pela influência de Santo Antônio.


. Para saber se irá se casar
Essa é uma curiosidade de toda mulher que atinge a idade de se preocupar com relacionamentos, amor e paixão. Saber se vai se casar logo ou não é uma expectativa muito interessante. Se você tem essa curiosidade, faça a seguinte simpatia, uma das mais tradicionais para o assunto: na véspera do dia de Santo Antônio, compre um copo branco e, à meia noite, coloque água. Quebre um ovo gelado dentro do copo, com cuidado, para não arrebentar a gema. Deixe no sereno por toda a noite. No dia seguinte, antes do sol nascer, pegue o copo e observe. Se estiver coberto por uma névoa branca você se casará antes do dia de Santo Antônio do próximo ano.

· Para ser pedida em casamento
Pegue uma fita vermelha e use-a no sutiã, entre os seios, por sete dias. Após este prazo, coloque-a dentro de um envelope, lacre-o e coloque-o no altar de Santo Antônio. Reze ao santo pedindo que realize seu desejo. Depois, acenda uma vela de sete dias.




Patis - Uma pequena vila


Fiz de uma pequena vila norte mineira
Tingida pelas cores do cerrado
O chão donde minha alma emana guerreira
O lar onde vivo, e tudo mais que tenho amado.

Fiz das madrugadas  e dos travesseiros
Refúgio dos meus encantos e ilusões,
Neles escrevi páginas de  livros inteiros
Feitos de sonho, fantasia e recordações.

Fiz do chão onde nascem belas flores
E do ar sempre leve, quente e quase puro
O maior de todos os meus amores,
As raízes do meu passado e planos de futuro.

Do  cheiro da terra em noite de luar
E do perfume dos lençóis da minha cama,
Nasceu a melodia que paira no ar
Sempre que a saudade acende a sua chama.


Fiz de uma pequena vila  norte mineira
A minha esperança, a luz do meu viver,
Fiz dela o chão donde minh'alma emana faceira
A raiz de amor que jamais posso esquecer.

Adaptação de "Besteira -  uma pequena aldeia" -  (Hisalena)

Meu quintal do tempo mágico. 









Que tempo aquele!?

Quanto mais se afasta dos dias atuais, mais se aproxima de mim.
O quintal da casa dos meus pais, onde vivi também, meus primeiros 10 anos, era o maior da comunidade. Algumas frutas não coincidem com as mesmas do quintal do texto de Linda Lacerda. Havia um bananal imenso,mangueira, mamoeiros, limoeiro, limeira e laranjeira. Havia plantas de fazer chá especialmente Erva cidreira e Capim Santo. O final do quintal era brejo e havia um " poço raso" de água perene. Havia o arrozal, o mandiocal e em determinado período plantava-se milho, feijão batata doce, amendoim e o que fosse necessário para consumo na época certa como Natal, Semana Santa, fogueira de São João, Festa de agosto etc. Depois do brejo era uma "manga de bois", sempre muito verde. Vez em quando víamos da janela da cozinha, que ficava no alto, tiros dos caçadores de veados, que jamais perdiam a caça. Na frente da casa, tinha a mangueira e o coqueiro para completar o nosso "Parque de diversão". Ao lado da casa grande havia o paiol, o depósito, e ao lado um certo "açougue" para consumo da família, onde não faltava carne salgada especialmente na época de plantio de roça para comida dos "camaradas". A "rês" era sacrificada na fazenda e a carne transportada em carro de bois.No fundo daquele barracão de provisão, havia uma área coberta de guardar lenha, onde sempre sobrava um pedacinho de sombra, verdadeiro paraíso. Ao lado havia um chiqueiro enorme e porcos caipiras de todos os tamanhos e pesos.Não podia faltar o toicinho, frito e torresmos guardado em latas. Quando estava perto de acabar, matava-se outro porco, ali mesmo no quintal. O Chiqueiro era o paraíso dos pássaros de todas as espécies da região. Chegavam e saiam em revoadas, além dos muitos que por ali viviam. Tínhamos uma orquestra inesquecível na alvorada e ao entardecer. havia ainda uma barragem e uma escada enorme e uma barroca. Me lembro da construção da barragem e do dia em que ela caiu. A barroca servia de desafio para ver quem pulava mais alto. Caímos das mangueiras, das cercas, das goiabeiras mas nunca tivemos problemas com a barroca que era muito mais perigosa que as árvores. Também não me lembro de acidente com animais peçonhentos, nem cachorros doidos, nem urina de ratos. Nem sei se as águas sujas das enxurradas prejudicaram a saúde de alguém.
Que tempo aquele!? Tempo mágico!!!